sábado, 20 de julho de 2013

AS MULHERES NEGRAS PODEM FALAR











"(...)
Demorou é nóis! 
Cantando numa só voz!
Com a sagacidade de um animal veloz,
Quem é pisoteado a vida ensina a ser feroz,
Não dá pra aguardar, ficar de baixo dos lençóis
Vamos junto que a caminhada é longa, 
O bonde não para!
Tem que tá ligeira, que só há lugar pra quem encara
Na vida, vivida, sofrida, já demo a partida
Vem comigo, minha passagem é só de ida"

Kmilla em "O Bonde Não Para"




Há 21 anos, desde que foi instituído durante o I Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-caribenhas - sediado em Santo Domingos, República Dominicana -  o dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha é comemorado no dia 25 de julho, como forma comemorativa de rememoração das lutas empreendidas, das estratégias engendradas no intuito de sobreviver no seio de sociedades sexistas e racistas, e no sentido de emancipar corpo e voz das Mulheres Afro-Latina-Americana e Caribenha.

O que faz desse dia, um dia político de projeção das vozes, anseios e inquietações das Mulheres, especialmente da mulher negra do hemisfério sul, que vivencia o vértice das intersecções de opressões e um apagamento político de sua voz, que pretende delimitar o espaço de possibilidades e circunscrevê-la ao alcance das tentativas de apropriação, docilização e controle do corpo.

Parte desse combinado de estratégias de descredibilização e apagamento da Mulher Negra do hemisfério sul, consiste em usar de um parâmetro que condiciona o poder de enunciar-se: "quem pode falar". Na escola, nas ruas, no íntimo dos círculos familiares, afetivos e sociais, as vozes que podem e as que devem falar são eleitas pelo mesmo circuito de normas que conformaram historicamente sociedades estratificadas, que erigiram-se sobre o custo de iniquidades.

Por seus lugares de fala socialmente estigmatizados, diversas mulheres negras ouviram, de sussurros cordiais a gritos impositivos, que não podiam, que não estavam aptas, tampouco tinham o direito a falar de suas histórias e trajetórias políticas e afetivas, individuais e coletivas. 

Não que possamos aplicar todos os verbos no passado, supondo que as lutas e conquistas deram conta de modificar concepções que são centrais na sustentação da ordem societária de disparidade na qual vivemos. Não que possamos tomar a paridade jurídica como discurso de legitimação da equidade social pela qual temos empenhado suor e sangue

Entretanto, é preciso recolocar a mulher negra nas escritas, percepções e interpretações históricas que constituem nossa visão da realidade. Compreender que o apagamento de nossas vozes só se referem ao espaço de um discurso que, apesar de hegemônico, produtor e mantenedor de estranhamentos com nossas vivências, não pôde e não pode transformar seu discurso de opressão em possibilidade única de realidade. Não pôde e não poderá suprimir a riqueza das vivências, estratégias e alianças que realizamos para sobreviver e passar adiante nossos legados étnicos e afetivos.

Se nossas lutas engendraram as possibilidades para que chegássemos à academia, um dos espaços de legitimação da voz, é preciso recordar que as forças e as estratégias que constituíram e mantiveram a resistência e luta vieram de vozes legítimas de fora desse espaço. Espaço este que é, então, mais um, a ser ocupado. A ter sua direção social orientada para a construção de uma sociabilidade outra, pautada na equidade, ética e direitos humanos, no que eles resguardam de respeito à condição humana.

As mulheres podem falar, porque o que legitima sua vozes é sua própria existência, especialmente em um contexto adverso à sua constituição, à sua afirmação positiva, no qual a sua condição feminina, sua identificação territorial são socialmente localizados como motivação para a marginalização e opressão.


As mulheres negras podem falar e nunca estiveram caladas.

Recolocar a mulher negra em um história hegemonicamente escrita por homens brancos significa repensar e resgatar que a mulher negra nunca esteve calada, senão diante do discurso hegemônico e opressivo.

Na tradição da transmissão oral, na manutenção da fé, da cultura e dos legados étnicos, a fala da mulher negra é instrumento de poder, de potencialização dos saberes e práticas, não só de sobrevivência, mas de luta e criação.

Portanto, nesse 25 de julho, mulheres negras PODEM E DEVEM FALAR!

Neste intuito, o NEPGREG endossa a iniciativa da I Blogagem Coletiva pelo dia 25 de julho, em Homenagem a Creuza de Oliveira chamada pelo Blogueiras Negras:


"O que é ser uma mulher negra pra você? O que temos para falar de nós, no nosso dia, da nossa vida, da nossa experiência, da nossa luta?
Pretas desse Brasil, uni-vos! Todas estão convidadas a responder isso participando da BLOGAGEM COLETIVA DO DIA MULHER AFRO-LATINO-AMERICANA E CARIBENHA, no dia 25 de julho!"

Não tem blog? Envie notas ou textos de até duas laudas para nepgreg.gerencial@gmail.com que, de acordo com a coerência com a chamada e a temática publicaremos sua voz.


Saudações!


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